Manifestações pelo Dia da Nakba deixam pelo menos 15 mortos

Ramala, 15 mai (EFE).- Pelo menos 15 pessoas morreram e mais de 170 ficaram feridas neste domingo nos protestos realizados na região por ocasião do Dia de Nakba, data em que os palestinos lembram o exílio e o trauma que representou para eles a criação do Estado de Israel em 1948.

Os principais enfrentamentos ocorreram nas Colinas do Golã, território ocupado por Israel na Guerra dos Seis Dias, de 1967, até então pertencente à Síria.

Centenas de palestinos de campos de refugiados no sul da Síria cruzaram a divisa para realizar manifestações na localidade drusa de Majdal Shams.

"Milhares de pessoas chegaram à fronteira e alguns a atravessaram, chegando a Majdel Shams. Os soldados mantêm um confronto com os manifestantes, que estão atirando pedras", declarou o porta-voz militar, general Yoav Mordechai, para quem a situação decorre de "uma provocação iraniana", informou o serviço de notícias israelense "Ynet".

Os manifestantes chegaram à cerca que divide os dois territórios por volta das 13h30 locais (7h30 de Brasília) com bandeiras palestinas e sírias. Quando cruzaram o limite, na altura da "Colina dos Gritos" - lugar onde os drusos do Golã ocupado se comunicavam com seus familiares na Síria -, foram recebidos a tiros pelos soldados israelenses.

O último balanço de vítimas indica que entre 10 e 20 pessoas foram baleadas, e entre elas há quatro mortos, segundo diferentes fontes oficiais e meios de comunicação locais.

Como uma parte das vítimas vive do lado controlado por Israel e outra do lado sírio, até agora é difícil estabelecer o balanço final de vítimas.

Os que conseguiram entrar - várias dezenas, segundo as Forças Armadas israelenses, e 150, segundo o "Canal 1" da televisão israelense - chegaram à Praça Tahrir (Libertação) de Majdal Shams para exigir repetidamente a Israel, com um apoio maciço da população drusa local: "Devolvam-nos nossa terra!".

Dez militares israelenses e três civis ficaram feridos nos enfrentamentos nas montanhas, onde nesta noite ainda restavam poucos refugiados que ainda tinha de ser devolvidos à Síria.

O Dia da Nakba ("Catástrofe", em árabe) é celebrado todos os anos, em 15 de maio, para lembrar as consequências da fundação do Estado de Israel aos palestinos e para exigir o retorno dos mais de 4 milhões de refugiados dispersos pelo mundo.

"A Nakba é o evento que mais define nossa história e nossa luta", explica Saeb Erekat, ex-chefe das negociações de paz do lado palestino, em comunicado.

O ato central do dia foi celebrado ao meio-dia (horário local) em Ramala, capital administrativa da Cisjordânia, com a participação de aproximadamente 10 mil pessoas e com a novidade este ano do soar de uma sirene em sinal de luto.

"O povo quer o fim da ocupação, como ocorreu no Egito" e "a ocupação mais longa do mundo deve terminar" eram alguns dos lemas que gritavam os participantes de uma concentração, que passou quase despercebida pela violência das manifestações em outras áreas.

Na estrada de Kalandia, entre Jerusalém e Ramala, cerca de 600 palestinos protestaram e jogaram pedras contra as forças israelenses, imagens que se repetiram em outros lugares da Cisjordânia.

De Beirute, as Forças Armadas libanesas informou que pelo menos dez pessoas tinham morrido e outras 112 ficaram feridas na localidade meridional de Maroun al-Ras, na fronteira com Israel, quando forças israelenses abriram fogo contra uma grande passeata que se aproximou da fronteira definida pela ONU.

Durante o protesto, do qual também participaram cidadãos libaneses, os participantes jogaram pedras contra os militares israelenses após ultrapassarem as barreiras colocadas pelo Exército libanês que tentavam impedir os distúrbios.

As Forças Armadas israelenses alegam que seus soldados dispararam "de forma seletiva contra os que tentavam destruir a cerca fronteiriça" e atribui boa parte das vítimas a tiros dos soldados libaneses.

"Isso é uma provocação do Irã e das organizações terroristas com sede em Damasco", disse à Agência Efe a tenente-coronel Avital Leibovich, porta-voz de imprensa das Forças Armadas israelenses, ao lembrar que Teerã "apadrinha" o movimento xiita libanês Hisbolá.

Em declarações a um meio de comunicação local, um porta-voz da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Finul) pediu a todas as partes "o máximo de contenção" para que o incidente não desencadeie uma crise regional.

O 15º morto do dia é um palestino que participava de uma manifestação em Gaza, também repelida pelo Exército israelense, quando uma multidão de milhares de pessoas se aproximou da estrada de Erez e começou a destruir as instalações.

Cerca de 70 palestinos ficaram feridos, informou Adham Abu Selmeya, porta-voz dos serviços de emergência em Gaza.

A jornada transcorreu com maior calma - 36 presos - em Jerusalém Oriental, onde no sábado morreu um adolescente palestino supostamente pelos tiros do vigilante de uma colônia judaica.